terça-feira, 1 de abril de 2008

Cuba vive série de pequenas revoluções diárias incentivadas por Raúl

01/04/2008 - 16h47

HAVANA, 1 Abr 2008 (AFP) - Todos os dias, os cubanos se vêem em meio a uma série de pequenas mudanças, incentivadas por Raúl Castro, que discreta e gradualmente tem implantado novos paradigmas na vida cotidiana da ilha.

Informados pelo que chamam de "rádio bemba" (comentário boca a boca), milhares de cubanos foram aos armazéns nesta terça-feira para comprar ou simplesmente ver os preços de uma série de produtos eletrônicos, com venda restringida desde 2003 devido ao déficit energético do país, segundo explicações oficiais.

Panelas de pressão elétricas, DVDs, vídeos e motos elétricas começaram a ser novamente disponibilizados; em breve, haverá também computadores, microondas e outros, que devem chegar aos armazéns a qualquer momento.

"Estou muito feliz com minha panelinha", disse à AFP Marlén Pérez, universitária que comprou nas "Galerías Paseo", uma das lojas mais populares de Havana.

A comercialização desses produtos é uma das proibições derrubadas por Raúl Castro, cinco semanas após ter sido eleito presidente em substituição a seu irmão, Fidel, que desistiu da reeleição devido a seu debilitado estado de saúde.

Na segunda-feira, os hotéis cubanos, reservados exclusivamente ao turismo internacional desde 1993, voltaram a abrir suas portas aos cubanos. A medida deve atrair para o país cubanos residentes no exterior, que viriam visitar a família.

Da mesma forma, cubanos agora também poderão alugar carros, e já circulam rumores de que a comercialização de automóveis particulares seria liberada em breve.

"Essas medidas são mais políticas que econômicas. Quem vai querer ir a um hotel ou alugar um carro? Mas ficamos felizes em saber que agora temos a liberdade de fazê-lo", comentou Alfredo Rodines, um engenheiro de 43 anos.

No dia próximo dia 14, começará a venda livre de linhas para telefones celulares, única das medidas anunciadas na imprensa. Raúl, general do Exército, pratica uma tática de avanço passo a passo, sem publicidade ou sobressaltos.

Em julho, quando ainda era presidente interino, Raúl anunciou a necessidade de realizar mudanças e reformas, "inclusive estruturais", na economia, em busca de mais eficiência.

Um debate nacional, lançado por Raúl - um militar com fama de pragmático, organizado e bom administrador -, deu margem a fortes expectativas por parte da população, que ele se encarregouy de moderar e de incentivar ao "trabalho duro" para que o país avance.

O novo presidente constatou que 51% da terra cultivável da ilha "está ociosa ou é subexplorada", um grave problema se forem levados em conta a alta global dos preços dos alimentos - por ano, a ilha importa 1,5 bilhão de dólares em produtos alimentícios.

Após a realização de um estudo, teve início uma verdadeira reforma agrária baseada na entrega massiva de terras ociosas, melhores preços a produtores e a descentralização de decisões em benefício dos municípios.

As novas Delegações Municipais de Agricultura são as peça fundamental do processo de descentralização. A partir de "um novo conceito", essas instâncias "terão autoridade para tomar decisões e assumir responsabilidades", além de explorar "toda a terra" e "aperfeiçoar a comercialização", informaram o jornal oficial Granma e a televisão estatal cubana.


UOL

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