sábado, 29 de novembro de 2008

Castro diz que Rússia, China e Venezuela são "pilares" de Cuba perante EUA

Havana, 28 nov (EFE).- O líder cubano, Fidel Castro, assegura que a Rússia, China e Venezuela são os "pilares" para os negócios da ilha frente ao bloqueio americano, em artigo no qual comenta sua reunião de sexta-feira com o presidente russo, Dmitri Medvedev, a quem elogia.

"Não deixei de abordar com ele um só ponto essencial, desde nossas posições em relação aos Estados Unidos, onde não cabe a idéia de que aceitemos a política de garrote", afirma Castro de seu encontro com Medvedev, em uma nova nota da série "Reflexões".

Ele relata que observou a Medvedev "durante as numerosas atividades que como presidente da federação russa realizou durante as últimas semanas, a crise financeira que castiga ao mundo".

"A Federação Russa é um dos mais poderosos estados da comunidade internacional apesar da desintegração da URSS", acrescenta Castro, que décadas atrás foi o primeiro aliado na América da União Soviética, por sua vez principal sustento que tinha então o Governo cubano.

O presidente russo terminou nesta sexta-feira sua primeira viagem pela América Latina, que o levou durante uma semana ao Peru, Brasil, Venezuela e Cuba.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Presidente da China chega a Havana para acordos bilaterais


Hu Jintao acena ao chegar à ilha; visita traz acordos comercia

da Efe, em Havana

O presidente da China, Hu Jintao, chegou nesta terça-feira a Havana para uma visita de 36 horas que incluirá uma reunião na quarta-feira (19) com o presidente cubano, Raúl Castro. Ambos devem também assinar acordos para ampliar a cooperação bilateral entre os países, informaram fontes oficiais.

Hu chegou ao aeroporto José Martí acompanhado por uma grande comitiva de funcionários, empresários e jornalistas, e foi recebido pelo primeiro vice-presidente cubano, José Ramón Machado Ventura, e vários ministros.
Enrique De La Osa/Reuters

Em nota distribuída à imprensa, Hu diz que a visita "tem como propósito aumentar a amizade, ampliar a cooperação e trabalhar em parceria com os companheiros cubanos para criar conjuntamente um futuro promissor".

A China é o segundo maior parceiro comercial da ilha, atrás apenas da Venezuela. Conforme dados oficiais, em 2007 os negócios entre os dois países cresceu 27%, totalizando US$ 2,6 bilhões (R$ 5,9 bilhões).

Os dois presidentes vão se reunir amanhã à tarde no Palácio da Revolução e depois participam de uma cerimônia para assinatura de acordos. Antes da chegada de Hu, funcionários dos dois países assinaram nesta terça-feira uma primeira rodada de convênios.

Os acordos incluem investimentos em Cuba, exportação à China de açúcar e níquel, colaboração em biotecnologia, reabilitação de portos e da rede sismológica da ilha, e reconstrução de casas, iniciativas relacionadas com os destroços causados pelos três furacões que castigaram o país nos últimos três meses.

O jornal oficial "Granma", porta-voz do Partido Comunista cubano, disse que a visita de Hu mostra "os excelentes vínculos existentes entre os dois partidos e governos", e dedicou uma de suas oito páginas a uma reportagem intitulada "a China continua demonstrando a validade do socialismo".

Diplomatas de outros países, no entanto, vêem grandes diferenças entre a potência comunista asiática, que tem uma economia aberta, e uma Cuba em crise crônica, na qual as tímidas reformas anunciadas por Raúl Castro parecem estagnadas.

Hu chega a Cuba após participar no sábado (15), em Washington, da cúpula de chefes de Estado e de governo do G20 (que reúne os países mais ricos e os principais emergentes) e depois de uma visita de 24 horas à Costa Rica, primeiro país centro-americano a estabelecer relações diplomáticas com Pequim e a suspender seus contatos com Taiwan.

Fidel

Cuba, único país da América com governo comunista, foi também o primeiro do continente a estabelecer relações com a China, em 1960, um ano após Fidel Castro chegar ao poder. Fontes diplomáticas não descartam uma reunião de Hu com o ex-ditador de 82 anos, que visitou a China em duas oportunidades.

Fidel deixou a Presidência em fevereiro passado ao irmão Raúl, e não aparece em público desde que adoeceu, em julho de 2006, mas ocasionalmente são divulgadas fotos e imagens suas, sobretudo durante visitas de líderes estrangeiros.

Fidel Castro, que ainda ocupa o cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista cubano --Raúl é o segundo--, se reuniu no dia 24 de junho com o secretário de Controle Disciplinar do Comitê Central do Partido Comunista chinês, He Guoquian, que visitou recentemente Havana.

Crise

A visita de Hu acontece no momento em que Cuba enfrenta uma difícil situação econômica, em parte por causa dos furacões Ike e Gustav, que causaram danos avaliados em US$ 9 bilhões (R$ 20,5 bilhões).

A ilha enfrenta os efeitos da crise financeira mundial, que reduziu o preço do níquel, o turismo e as remessas dos emigrantes, três de suas principais fontes de divisas.

O país também sofre com a alta dos preços internacionais dos alimentos, já que importa mais de 80% do que é consumido por seus 11,2 milhões de habitantes.

A visita de Hu terminará no começo da quarta-feira (19), quando partirá para Lima, no Peru, onde participa, no próximo fim de semana, de reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).

Esta é sua segunda viagem pela América Latina, depois da realizada em 2004, em que passou por Brasil, Chile, Argentina e Cuba.

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sábado, 15 de novembro de 2008

Guantánamo: Obama cumpre o compromisso

Helio Fernandes focalizou o tema na edição de 12/11 desta TRIBUNA DA IMPRENSA, da mesma forma que o "The New York Times" na reportagem publicada sobre o encontro que Barack Obama manteve com o presidente George Bush, na Casa Branca. O presidente eleito deixou claro que entre suas primeiras medidas está a de desativar a prisão de Guantánamo, transferindo os presos que lá se encontram para os Estados Unidos.

Vão ser julgados dentro da lei (sem lei não há civilização), como aliás reivindica há tempos, com intensidade e insistência, a Anistia Internacional, órgão que luta pelo respeito aos direitos humanos. Mas o que desejo acentuar, como escrevi recentemente, é que os compromissos assumidos por um candidato na campanha são cumpridos pelo presidente.

Desativar aquela base foi agora um deles. Retirar as tropas do Iraque até o final de 2009, outro. Nos Estados Unidos, não existe essa de esquecer as promessas. Elas valem antes e depois das urnas. No Brasil, de modo geral, não é assim. Infelizmente para nós. As palavras, aqui, o vento leva. Na América do Norte permanecem na memória.

Esta diferença é essencial para a democracia. O presídio em que Guantánamo foi transformado não é uma expressão democrática. Tampouco a base militar que o governo de Washington lá instalou em 1934, governo Franklin Roosevelt, desvirtuada depois. Era um porto livre para exportação de açúcar no início do século 20. Foi transformado em área de segurança por motivos estratégicos. Inclusive, Guantánamo desempenhou importante papel na Segunda Guerra Mundial, como ponto de combate aos submarinos japoneses e alemães. Mas depois as coisas mudaram. Os EUA não saíram de lá, mesmo com o rompimento de relações em 60, pelo presidente Eisenhower, no final de seu governo.

John Kennedy, eleito naquele ano, ao assinar em 61, manteve a ruptura e também o embargo econômico. Este embargo foi um erro, propiciou à União Soviética adquirir a produção de açúcar da ilha, a pérola das Antilhas, como era chamada, e tentar a penetração comunista no continente americano.

O embargo econômico, por reflexo, ampliou o mercado de açúcar para o Brasil. Mas deu margem à crise dos mísseis em Havana, quase causando um novo conflito mundial. Kruschev, então primeiro-ministro da URSS, hoje Rússia, transportou o armamento para Cuba, direcionando-o para Miami. Kennedy exigiu a retirada. O mundo viveu dias de suspense em novembro de 62. A retirada ocorreu. Moscou trocava Havana pelo afrouxamento da presença americana em Berlim, então dividida nos lados oriental e ocidental.

Não houve uma explosão que poderia ser nuclear. Mas surgiu o que se convencionou chamar de um Novo Tratado de Tordesilhas. A guerra fria tornou-se morna, Estados Unidos e União Soviética estabeleceram uma divisão universal à base de blocos de poder além das fronteiras de seus países. Já existia esta divisão no leste europeu. Sem dúvida. Mas em 1962 ela seria reconhecida tácita e explicitamente de modo mais amplo. O muro de Berlim já estava de pé desde 1961. Somente seria demolido por Gorbachev, em 1989. Uma tragédia. Enquanto isso, Guantánamo permanecia como base militar americana, mesmo contra a vontade de Fidel Castro.

Transformara-se, ao mesmo tempo, numa prova de invasão acompanhada de ocupação. A base militar, com o passar do tempo, perdeu o sentido. Os equipamentos modernos a dispensariam, como de fato aconteceu. Mas eis que há oito anos, início do governo Bush, ela foi transformada numa prisão para terroristas acusados em estranhos e sombrios processos. Não estou querendo dizer que sejam inocentes, mas apenas que é indispensável iluminar as questões.

E que possam se defender ou apresentar suas versões, já que ninguém, tampouco tribunal algum, pode ser ao mesmo tempo juiz e parte. Guantánamo e o Iraque tendem a se tornar emblemas de uma nova era. Ambos são compromissos do presidente eleito. O caso Guantánamo é mais simples. Somente o fim de uma intervenção em território de outro país. No Iraque, o problema é mais complicado. Assim como no Afeganistão. Mas quanto a este país, Obama não anunciou a saída das tropas americanas. Pelo contrário. Do Iraque, disse que sai até dezembro do ano que vem. A questão iraquiana é complexa porque, no fundo, envolve altos interesses de empresas que operam na extração e comercialização de petróleo. Mas não somente isso. A invasão para derrubar e matar Sadam Hussein, um ditador sanguinário, partiu de versões falsas quanto à posse de armas letais químicas por parte de Bagdá.

O tempo encarregou-se de provar que não era nada disso. O que dá margem ao presidente que assume a 20 de janeiro terminar com mais uma guerra malsucedida, a exemplo das que ocorreram na Coréia, de 49 a 53, e no Vietnã, de 62 a 75. Dá margem ao início da construção de uma nova política que coloque em destaque, e não diminua, a imagem dos Estados Unidos no mundo. Sobretudo porque, na minha opinião, não existe um EUA. Existem dois.

O primeiro dentro das fronteiras do país. O segundo, espalhado pela força econômica das empresas norte-americanas instaladas numa série de nações. Presidir os Estados Unidos será sempre extremamente difícil, mesmo sem a guerra fria, porque, às vezes, um Estados Unidos colide com o outro. Política é também a arte de harmonizar interesses econômicos em choque.

Será sempre assim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Se Obama devolver Guantanamo a Cuba - Estará percorrendo a estrada da esperança (Helio Fernandes)

Se de acordo com o compromisso Obama fechar Guantanamo ou devolvê-la aos cubanos estará mais do que respeitando a própria palavra, estará se valorizando.

Guantanamo é uma excrescência de 110 anos, que começou em 1898. Primeiro como defesa de Cuba do ataque da Espanha. Vitoriosos, os EUA ficaram com a fortaleza para eles mesmos. Enquanto isso, se divertiam em Cuba, terra de fim de semana.

Essa intervenção a favor (?) de Cuba em 1898, além de ser a primeira manifestação guerreira dos EUA fora do seu território, foi sem dúvida uma grande vitória. Além de ter derrotado a Espanha, uma das grandes potências da época, os EUA obtiveram muita coisa.

1 - Deram a impressão ao mundo de que seriam potência emergente, mas não era esse o objetivo dos Fundadores da República.

2 - Estes, os chamados "8 sábios da Filadélfia", queriam paz e isolamento.

3 - Toda a Constituição de 1788 (a única que eles têm até hoje) era pela consolidação e pelo isolamento interno.

4 - Além de terem mantido Guantanamo sob seu comando, os Estados Unidos garantiram outras vantagens.

5 - Obtiveram o direito de incorporar Porto Rico, o que não fizeram até hoje por falta de interesse.

6 - Pela primeira vez penetraram na Ásia, com a conquista das Filipinas, que teria enorme importância na Segunda Guerra Mundial.

7 - Apesar das vitórias, os EUA se retraíram, voltaram ao ISOLAMENTO, que mais tarde seria chamado de ISOLACIONISMO.

8 - Esse fato se confirmou nos 4 anos da Primeira Guerra Mundial, que se travou e se desenvolveu praticamente sem a participação dos americanos.

9 - Nessa Primeira Guerra Mundial, os americanos mandaram para a Europa apenas 17 mil homens.

10 - Menos do que o Brasil, que mandou 25 mil, o efetivo da FEB na Itália. Quase no final da guerra, com os alemães praticamente encurralados em Berlim e o primeiro-ministro Clemenceau gritando "óleo, óleo, precisamos de óleo", os americanos mandaram combustível para liquidar os alemães. Foi essa a participação americana para liquidar a Alemanha.

Na assinatura da rendição incondicional da Alemanha em 11 de novembro de 1918 (hoje completando 90 anos), os americanos nem se interessaram. E voltaram à permanência interna, isolados.

11 - Foram representados por um diplomata ignorado. Até o Brasil mandou Epitácio Pessoa, que lá mesmo "seria eleito presidente da República, em 1919".

12 - De novembro de 1918 até 7 de dezembro de 1941, os EUA mantiveram o silêncio, não participando de nada. Havia até um "Movimento Isolacionista", presidido pelo herói nacional, coronel Lindemberg.

13 - Em 7 de dezembro de 1941, com a estranha e até incompreensível invasão de Pearl Harbour, os americanos tiveram que entrar na guerra.

14 - Aí entraram para valer, utilizando os formidáveis recursos que só utilizavam internamente. Criaram a Coordenação da Mobilização Econômica, responsável por transformar toda a indústria civil em indústria de guerra. Era chefiada por John Kenneth Galbraith, de 33 anos, um dos jovens integrantes do "brain truste" de Roosevelt.

15 - Os Estados Unidos ajudaram especialmente a ganhar a Segunda Guerra Mundial, e não abandonaram nunca mais o domínio do mundo. Em 1944 fizeram Bretton Woods, em seguida destruíram Hiroshima e Nagasaki. A partir dos atos de terrorismo, contrariaram os Fundadores. Torturam para valer, não nos EUA, mas em Guantanamo, que consideravam propriedade deles.

PS - Se Obama devolver Guantanamo a Cuba, terá sido a maior demonstração de que estará trilhando realmente o caminho da esperança. E disposto a cumprir os compromissos da campanha.