terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cuba estuda como reduzir disparidades entre suas duas economias

26/02/2008 - 18h11

Por Marc Frank

HAVANA (Reuters) - O presidente Raúl Castro precisará de tempo para fortalecer o peso cubano e unir as duas moedas que circulam no país, mas há formas mais rápidas para melhorar o poder de compra e reduzir a insatisfação da população, segundo economistas.

O general de 76 anos, que no domingo sucedeu formalmente a seu irmão Fidel, disse no discurso de posse que está estudando uma revalorização "gradual e prudente" da moeda nacional.

Mas ele deu mais ênfase à melhoria da produção na economia centralizada e a reformas que reduzam a burocracia que afeta todos os aspectos do cotidiano na ilha.

Desde que assumiu provisoriamente o poder, em julho de 2006, Raúl convidou os cubanos a manifestarem abertamente suas preocupações. As principais reclamações foram com relação aos salários pagos pelo Estado, em torno de 350 pesos (15,75 dólares), o que não chega nem perto de atender às necessidades básicas --apesar do subsídio aos alimentos e à gratuidade da moradia, saúde e educação.

Os cubanos recebem salários na moeda nacional, mas vários produtos --como sabão e sapatos-- são vendidos em "pesos conversibles", que é cotado quase a 1 dólar. Um peso conversível compra 24 pesos cubanos.

"Você pode trabalhar o dia todo, mas no final tem de pedir roupas aos turistas, porque não basta. É humilhante", disse a varredora de ruas Rosa Elena, durante uma pausa do trabalho no bairro colonial da capital.

Para piorar as coisas, os bens vendidos a pesos conversíveis nas lojas estatais têm um ágio de pelo menos 240 por cento, usado para subsidiar os alimentos básicos.

"Uma forma de melhorar o poder de compra sem aumentar os salários seria reduzir o ágio e, portanto, os preços nas lojas de divisas, pelo menos dos produtos básicos", disse o economista Juan Triana.

"Dessa forma não haveria mais pesos em circulação, o que é uma grande preocupação", afirmou ele na segunda-feira à Associação Cubana das Nações Unidas.

Outros economistas concordam com Raúl que a prioridade deva ser melhorar a produtividade, especialmente de alimentos, o que iria reequilibrar o poder de compra sob as leis de oferta e procura.

"Nossos problemas se devem a uma escassez de produtos. O preço do tomate ou do porco não vai cair se não produzirmos mais", disse o economista cubano Omar Everleny. "Uma reavaliação tem de ser gradual, porque a questão fundamental é produtiva, não financeira."

Cerca de 60 por cento dos 11,2 milhões de habitantes de Cuba têm algum acesso a moedas fortes, principalmente por meio de remessas de parentes no exterior ou contato com turistas O resto tem de trocar seus pesos cubanos por pesos conversíveis para comprar os itens não-disponíveis na moeda nacional.

Simplesmente reduzir a cotação do peso conversível ou vincular as duas cotações sem fortalecer a economia provocaria instabilidade e inflação, segundo economistas.

"Se a plena unificação das moedas ainda não está ao alcance, o governo poderia alterar subsídios, preços e salários para reforçar agora o poder real de compra", disse Phil Peters, do Instituto Lexington, da Virginia (EUA).

"Isso começaria a resolver a insatisfação política, e talvez preparasse terreno para uma moeda única posteriormente."

(Tradução Redação São Paulo, 5511 5644-7745)

REUTERS CP

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