HAVANA (Reuters) - Fidel Castro pode ter se aposentado do cargo de presidente de Cuba na semana passada, após ficar 49 anos no poder, mas continua a ter alguma voz de comando.
Em um artigo publicado na sexta-feira, Fidel disse que foi sua a idéia de promover dois generais três estrelas para integrarem o gabinete de governo agora comandado por Raúl Castro, irmão mais novo dele.
Esses são os primeiros comentários feitos por Fidel desde que Raúl tornou-se, no domingo, o novo presidente de Cuba. As palavras do ex-dirigente parecem ter por objetivo afastar boatos sobre uma desavença entre os irmãos ou sobre uma militarização do atual governo cubano.
Fidel, 81, deixou claro que não tem nenhum cargo dentro da atual administração do país e disse que Raúl, 76, possui "todas a prerrogativas legais e constitucionais" para comandar Cuba.
O ex-presidente, que não aparece em público desde que ficou doente, 19 meses atrás, afirmou que seu irmão e sucessor consultou-o antes de nomear José Ramón Machado Ventura, um ideólogo da linha-dura do Partido Comunista, como vice-líder da ilha caribenha bem como ao escolher dois nomes para integrar o Conselho de Estado.
"Foi também uma decisão minha pedir ao comitê de nomeação que incluísse Leopoldo Cintra Frías e Álvaro López Miera na lista dos membros do Conselho de Estado", disse Fidel.
López Miera, 64, é chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e Cinta Frías, 66, comandante do Exército Ocidental da ilha.
Os dois generais lutaram em Angola e têm sido aliados fiéis dos irmãos Castro desde que ingressaram no movimento guerrilheiro deles, aos 15 anos de idade. A nomeação dos dois soma-se a de outros oficiais das Forças Armadas, indicando um aumento da participação dos militares no governo cubano.
"O tabuleiro apontou essas alternativas. Isso não foi resultado das supostas tendências militaristas de Raúl nem diz respeito a uma ferrenha luta entre gerações ou facções em torno do poder", escreveu Fidel.
Os adversários do ex-presidente, em especial os que pertencem à comunidade de exilados cubanos residente nos EUA, vêem na mudança de líderes uma farsa autoritária já que o convalescente Fidel continuaria dando as cartas desde os bastidores do poder.
Essa fatia dos cubanos alimentou a esperança de que o sistema de partido único de Cuba entrasse em colapso em julho de 2006, quando Fidel foi submetido a uma cirurgia intestinal de emergência devido a uma doença desconhecida e delegou poderes a seu irmão.
"Para muitas pessoas, nosso país era uma panela de pressão prestes a explodir", escreveu Fidel, acrescentando que essa "ilusão" não tinha se materializado.
"Pode-se agora ouvir o uivo dos lobos presos nas armadilhas", disse, no artigo. "Eles estão babando de raiva por causa da eleição de Machadito como primeiro vice-presidente."
(Reportagem de Anthony Boadle)