sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Fidel Castro continua a ter influência sobre governo de Cuba

29/02/2008 - 14h55

HAVANA (Reuters) - Fidel Castro pode ter se aposentado do cargo de presidente de Cuba na semana passada, após ficar 49 anos no poder, mas continua a ter alguma voz de comando.

Em um artigo publicado na sexta-feira, Fidel disse que foi sua a idéia de promover dois generais três estrelas para integrarem o gabinete de governo agora comandado por Raúl Castro, irmão mais novo dele.

Esses são os primeiros comentários feitos por Fidel desde que Raúl tornou-se, no domingo, o novo presidente de Cuba. As palavras do ex-dirigente parecem ter por objetivo afastar boatos sobre uma desavença entre os irmãos ou sobre uma militarização do atual governo cubano.

Fidel, 81, deixou claro que não tem nenhum cargo dentro da atual administração do país e disse que Raúl, 76, possui "todas a prerrogativas legais e constitucionais" para comandar Cuba.

O ex-presidente, que não aparece em público desde que ficou doente, 19 meses atrás, afirmou que seu irmão e sucessor consultou-o antes de nomear José Ramón Machado Ventura, um ideólogo da linha-dura do Partido Comunista, como vice-líder da ilha caribenha bem como ao escolher dois nomes para integrar o Conselho de Estado.

"Foi também uma decisão minha pedir ao comitê de nomeação que incluísse Leopoldo Cintra Frías e Álvaro López Miera na lista dos membros do Conselho de Estado", disse Fidel.

López Miera, 64, é chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e Cinta Frías, 66, comandante do Exército Ocidental da ilha.

Os dois generais lutaram em Angola e têm sido aliados fiéis dos irmãos Castro desde que ingressaram no movimento guerrilheiro deles, aos 15 anos de idade. A nomeação dos dois soma-se a de outros oficiais das Forças Armadas, indicando um aumento da participação dos militares no governo cubano.

"O tabuleiro apontou essas alternativas. Isso não foi resultado das supostas tendências militaristas de Raúl nem diz respeito a uma ferrenha luta entre gerações ou facções em torno do poder", escreveu Fidel.

Os adversários do ex-presidente, em especial os que pertencem à comunidade de exilados cubanos residente nos EUA, vêem na mudança de líderes uma farsa autoritária já que o convalescente Fidel continuaria dando as cartas desde os bastidores do poder.

Essa fatia dos cubanos alimentou a esperança de que o sistema de partido único de Cuba entrasse em colapso em julho de 2006, quando Fidel foi submetido a uma cirurgia intestinal de emergência devido a uma doença desconhecida e delegou poderes a seu irmão.

"Para muitas pessoas, nosso país era uma panela de pressão prestes a explodir", escreveu Fidel, acrescentando que essa "ilusão" não tinha se materializado.

"Pode-se agora ouvir o uivo dos lobos presos nas armadilhas", disse, no artigo. "Eles estão babando de raiva por causa da eleição de Machadito como primeiro vice-presidente."

(Reportagem de Anthony Boadle)

Fidel diz que Raúl Castro tem méritos para ser presidente

29/02/2008 - 13h51

da France Presse, em Havana

O ex-ditador cubano Fidel Castro afirmou que, apesar de ser consultado sobre o novo governo, não impôs seu critério e considera que seu irmão, Raúl, tem todas as qualidades necessárias para dirigir Cuba, segundo um novo artigo publicado nesta sexta-feira, o primeiro depois da nomeação do novo presidente no domingo passado.

"Raúl conta com todas as faculdades e prerrogativas legais e constitucionais para dirigir nosso país", afirmou Fidel, classificando de "palavras inteligentes e serenas" o discurso do irmão ao ser nomeado presidente na sessão parlamentar.

O líder cubano comentou que foi consultado sobre a designação como primeiro vice-presidente --no lugar de Raúl-- de José Ramón Machado, médico de 77 anos e dirigente histórico da linha dura do Partido Comunista.

"Não exigi ser consultado; isso foi decisão de Raúl e dos dirigentes principais do país", explicou.

Fidel destacou ainda a unidade em torno do governo de seu irmão. "Para muitos, nosso país era como uma caldeira cheia de vapor prestes a explodir. Eles se chocam com meio século de resistência heróica".

"Não são poucos os que têm vontade de ver uma súbita derrubada da Revolução heróica que resistiu e resiste a meio século de agressão imperiaista", concluiu.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Raúl Castro recebe secretário de Estado do Vaticano em Havana

26/02/2008 - 21h09

da Folha Online

O presidente de Cuba, Raúl Castro, recebeu nesta terça-feira o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, em seu primeiro encontro com uma autoridade estrangeira após ser eleito para substituir Fidel Castro.

Raúl Castro, 76, se reuniu com Bertone no Palácio da Revolução, em Havana, ao final de uma visita de seis dias à Ilha, na qual o número dois do Vaticano celebrou missas na capital, Santa Clara, Santiago de Cuba e Guantánamo.

O líder cubano, que vestia um terno azul, recebeu Bertone ao lado do vice-presidente, Carlos Lage, do chanceler Felipe Pérez Roque e de outros funcionários do governo cubano.

Ismael Francisco/AP
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, durante visita à Universidade de Havana nesta terça-feira
O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, durante visita à Universidade de Havana nesta terça-feira

Antes do encontro, o secretário de Estado do Vaticano disse a jornalistas que as autoridades cubanas lhe prometeram "mais abertura na imprensa, no rádio e até na televisão".

Ainda não há informações sobre o conteúdo da reunião, mas Bertone, havia dito na segunda-feira que esperava participar de um encontro "claro, sincero, de troca com o presidente Raúl Castro", eleito pelo Parlamento no último domingo (24).

A reunião com Raúl era o último compromisso da apertada agenda que durante seis dias levou o número dois do Vaticano a várias cidades de Cuba, em comemoração à visita feita há dez anos pelo então papa João Paulo 2º à ilha.

A reunião com Raúl Castro, nomeado no domingo passado em substituição a seu irmão Fidel, que renunciou por razões de saúde após 49 anos no poder, ocorreu no Palácio da Revolução em Havana, sede do Conselho de Estado.

Escola de medicina

Nesta segunda-feira, Bertone afirmou que sua chegada à ilha coincidiu com "um momento especial, extraordinário", e disse que, na sua opinião, "Raúl Castro continuará (...) com uma visão, se possível for, de desenvolvimento", tanto em Cuba como no âmbito das relações internacionais.

Antes da reunião com o novo presidente, o enviado do Papa Bento 16 celebrou uma missa para religiosos salesianos e visitou a Escola Latino-Americana de Medicina, na qual estão matriculados dez mil jovens de 30 países, muitos deles católicos.

Ismael Francisco/AP
Tarcísio Bertone durante discurso na Universidade de Havana
Tarcísio Bertone durante discurso na Universidade de Havana

A estudante mexicana Mariana Paredes disse à agência de notícias Efe que era "uma honra para os estudantes" ter "a oportunidade de ver o enviado do Vaticano", e agradeceu ainda a Cuba pela oportunidade de estudar medicina.

Bertone se reuniu com cerca de 400 jovens do centro de ensino, e pediu a eles que no trato com os doentes não apenas "descubram as dores físicas", como também "essas dores espirituais que, com tato e afeto, podem também aliviar".

É a terceira visita de Bertone a Cuba --o religioso esteve na ilha em 2001, quando era secretário da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (Santo Ofício), e em 2005, como cardeal arcebispo de Gênova.

O cardeal declarou que agora poderia "debater, cara a cara, diversos problemas e de compartilhar várias metas" com representantes da direção do país e que "jamais" tinha podido "falar tanto com as autoridades cubanas como nesta terceira visita", algo que considerou "importante".

Nesta segunda, Bertone esteve reunido com o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Felipe Pérez Roque, e em coletiva de imprensa posterior expressou ainda seu desejo de que as relações "sigam amadurecendo mais como nestes dez anos".

Bloqueio econômico

Após a reunião com o chanceler, Bertone declarou que o bloqueio econômico que os Estados Unidos mantêm contra Cuba há mais de 45 anos é "injusto e eticamente inaceitável".

Em uma ocorrência pouco habitual, o diário oficial "Granma" publicou nesta terça um comunicado divulgado na segunda-feira pelos bispos cubanos, e no qual conclamam o novo presidente a adotar "medidas transcendentais" para atender às "ânsias e inquietações expressadas pelos cubanos".

O enviado do Vaticano também esteve na Universidade de Havana, onde ministrou uma conferência para intelectuais e professores. Na ocasião, fez menção à necessidade de se encontrar "caminhos concretos" para que cultura e ética, igreja e sociedade, possam colaborar na construção de um mundo mais humano.

Bertone celebrou missas na Praça da Catedral de Havana, onde pediu um maior espaço para que a igreja cubana possa ampliar sua missão, e na cidade de Santa Clara (centro), onde inaugurou o primeiro monumento público a João Paulo 2º na ilha.

O religioso lembrou das mensagens do ex-papa e disse que "a família, a escola e a Igreja devem formar uma comunidade educativa onde os filhos de Cuba possam crescer em humanidade".

O cardeal recebeu uma demonstração de fervor de católicos no Santuário de Nossa Senhora da Caridad del Cobre, padroeira de Cuba.

Com Efe e France Presse

Cuba estuda como reduzir disparidades entre suas duas economias

26/02/2008 - 18h11

Por Marc Frank

HAVANA (Reuters) - O presidente Raúl Castro precisará de tempo para fortalecer o peso cubano e unir as duas moedas que circulam no país, mas há formas mais rápidas para melhorar o poder de compra e reduzir a insatisfação da população, segundo economistas.

O general de 76 anos, que no domingo sucedeu formalmente a seu irmão Fidel, disse no discurso de posse que está estudando uma revalorização "gradual e prudente" da moeda nacional.

Mas ele deu mais ênfase à melhoria da produção na economia centralizada e a reformas que reduzam a burocracia que afeta todos os aspectos do cotidiano na ilha.

Desde que assumiu provisoriamente o poder, em julho de 2006, Raúl convidou os cubanos a manifestarem abertamente suas preocupações. As principais reclamações foram com relação aos salários pagos pelo Estado, em torno de 350 pesos (15,75 dólares), o que não chega nem perto de atender às necessidades básicas --apesar do subsídio aos alimentos e à gratuidade da moradia, saúde e educação.

Os cubanos recebem salários na moeda nacional, mas vários produtos --como sabão e sapatos-- são vendidos em "pesos conversibles", que é cotado quase a 1 dólar. Um peso conversível compra 24 pesos cubanos.

"Você pode trabalhar o dia todo, mas no final tem de pedir roupas aos turistas, porque não basta. É humilhante", disse a varredora de ruas Rosa Elena, durante uma pausa do trabalho no bairro colonial da capital.

Para piorar as coisas, os bens vendidos a pesos conversíveis nas lojas estatais têm um ágio de pelo menos 240 por cento, usado para subsidiar os alimentos básicos.

"Uma forma de melhorar o poder de compra sem aumentar os salários seria reduzir o ágio e, portanto, os preços nas lojas de divisas, pelo menos dos produtos básicos", disse o economista Juan Triana.

"Dessa forma não haveria mais pesos em circulação, o que é uma grande preocupação", afirmou ele na segunda-feira à Associação Cubana das Nações Unidas.

Outros economistas concordam com Raúl que a prioridade deva ser melhorar a produtividade, especialmente de alimentos, o que iria reequilibrar o poder de compra sob as leis de oferta e procura.

"Nossos problemas se devem a uma escassez de produtos. O preço do tomate ou do porco não vai cair se não produzirmos mais", disse o economista cubano Omar Everleny. "Uma reavaliação tem de ser gradual, porque a questão fundamental é produtiva, não financeira."

Cerca de 60 por cento dos 11,2 milhões de habitantes de Cuba têm algum acesso a moedas fortes, principalmente por meio de remessas de parentes no exterior ou contato com turistas O resto tem de trocar seus pesos cubanos por pesos conversíveis para comprar os itens não-disponíveis na moeda nacional.

Simplesmente reduzir a cotação do peso conversível ou vincular as duas cotações sem fortalecer a economia provocaria instabilidade e inflação, segundo economistas.

"Se a plena unificação das moedas ainda não está ao alcance, o governo poderia alterar subsídios, preços e salários para reforçar agora o poder real de compra", disse Phil Peters, do Instituto Lexington, da Virginia (EUA).

"Isso começaria a resolver a insatisfação política, e talvez preparasse terreno para uma moeda única posteriormente."

(Tradução Redação São Paulo, 5511 5644-7745)

REUTERS CP

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

À frente de Cuba, Raúl Castro deve enfrentar desafio das reformas

25/02/2008 - 13h05

da Folha Online

Nomeado sucessor de Fidel Castro na Presidência de Cuba pela Assembléia Nacional, Raúl Castro, 76, deve enfrentar a partir desta segunda-feira o desafio das reformas esperadas pelos cubanos, depois de quase meio século de mandato de seu irmão mais velho.

O general já governava Cuba interinamente desde julho de 2006, devido aos problemas de saúde de Fidel, que culminaram em sua renúncia ao cargo na última terça-feira (19).

Ismael Francisco/AP
Raúl Castro foi eleito presidente de Cuba pela Assembléia Nacional no domingo (24)
Raúl Castro foi eleito presidente de Cuba pela Assembléia Nacional no domingo (24)

Considerado favorito para suceder Fidel, Raúl tornou-se o virtual novo presidente quando encabeçou a uma lista única de candidatos apresentada à Assembléia, que ratificou a cédula e o elegeu novo mandatário da ilha.

Neste domingo, durante o discurso de posse, ele prometeu fazer reformas, mas disse que manterá a economia "dentro do socialismo", e fez uma série de referências ao irmão Fidel.

No discurso, Raúl disse que não desviará a ilha do socialismo, e que seu irmão continuará a ser consultado sobre questão importantes. "Fidel é Fidel. Ele é insubstituível", disse Raúl.

O novo presidente prometeu, no entanto, "eliminar proibições" na ilha, mas reconheceu o legado de seu irmão, que ficou mais de 49 anos a frente do poder.

'Nas próximas semanas, começaremos a eliminar as [proibições] mais simples, já que muitas delas tiveram como objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades em um momento de escassez generalizada', declarou durante seu discurso de posse.

Ele não detalhou quando e quais serão as proibições que serão anuladas.

O general também afirmou que vai rever o tamanho do Estado cubano, tendo por objetivo tornar sua gestão 'mais eficiente'.

Marcelo Katsuki/Arte Folha

Mudanças

Para analistas, as mudanças implementadas por Raúl devem ser "cautelosas". "Acredito que Raúl fará algumas reformas modestas no futuro próximo", disse Archibald Ritter, especialista em Cuba da Universidade de Carleton, em Ottawa (Canadá), à agência de notícias Reuters.

No entanto, a primeira medida anunciada por Raúl foi a nomeação de José Ramon Machado Ventura, 77, um comunista linha-dura, para ser seu vice, afastando o vice de Fidel Carlos Lage, 56, que era mais identificado com as pequenas mudanças econômicas dos anos 90.

Raúl, que já foi um comunista linha-dura que supervisionava as execuções de inimigos da revolução, vem encorajando o debate moderado nos últimos meses, e pediu que os cubanos expressem publicamente suas preocupações a respeito da vida na ilha caribenha.

"Ele abriu a caixa de Pandora", disse o cubano Carmelo Mesa-Lago, professor da Universidade de Pittsburgh, à agência Reuters.

"Se introduzir apenas mudanças pequenas e cosméticas, a frustração apenas crescerá".

Viva Fidel

Um dos mandatários mais próximos a Fidel, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi o primeiro chefe de Estado a enviar uma felicitação ao novo presidente de Cubano.

"Raúl sempre esteve ali, praticamente invisível, mas trabalhando o mais possível, fiel à revolução, ao povo cubano e fiel até a medula ao seu irmão mais velho, Fidel Castro", disse Chávez, em um programa de televisão.

"Fidel, camarada, vai aqui um abraço, você segue sempre sendo o comandante Fidel. Viva Raúl, viva Fidel, viva Cuba!", acrescentou o presidente venezuelano, pedindo a seus seguidores e membros do gabinete uma salva de palmas para Raúl.

Com Associated Press, Efe e France Presse



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Niemeyer diz que Fidel continua na luta contra imperialismo

19/02/2008 - 17h42

Por Fernanda Ezabella

SÃO PAULO (Reuters) - O arquiteto carioca Oscar Niemeyer, comunista histórico e citado no texto de renúncia à Presidência de Fidel Castro, acredita que os embates entre Cuba e os Estados Unidos irão continuar e que o líder não abandonará a luta.

"É claro que, apesar da tristeza com que o povo cubano acompanha os acontecimentos que se seguem à renúncia de Fidel, sobra para ele e toda a América Latina a certeza de que o grande líder continuará a participar desta luta contra as forças reacionárias do imperialismo norte-americano", escreveu Niemeyer em uma nota à imprensa.

Na mensagem anunciando sua saída, publicada nesta terça-feira, Fidel, de 81 anos, citou o amigo, dizendo "penso como Niemeyer, que se deve ser consequente até o final".

Niemeyer, 100 anos, nunca visitou Cuba, mas já recebeu Fidel em seu escritório em Copacabana. Ele também desenhou diversos projetos não realizados para a ilha, como a embaixada brasileira.

Recentemente foi inaugurada em Havana uma escultura de aço de Niemeyer, de quase 10 toneladas, na qual aparece um monstro indo contra um pequeno homem segurando a bandeira de Cuba estilizada. A obra representaria, nas palavras de Niemeyer, "a luta contra o imperialismo".

"CRÔNICA DA RENÚNCIA ANUNCIADA"

Para a historiadora Claudia Furiati, autora de "Fidel Castro: Uma Biografia Consentida", a notícia da saída do líder cubano "era uma crônica da renúncia anunciada".

"Antes mesmo da doença dele, Fidel já vinha passando pouco a pouco suas atribuições a outras pessoas, todas do círculo cubano, entre elas o próprio irmão dele, Raúl", disse Furiati, que pressentiu essa saída estratégica desde que terminou seu livro, na virada do século.

Ao contrário de Niemeyer, Furiati acha que a renúncia do líder pode dar início a um relaxamento das tensões entre Cuba e EUA, que impõem à ilha um embargo econômico desde 1962.

"Claro que isso não depende só de Cuba, depende também do que vai acontecer após as eleições lá nos EUA", disse Furiati.

Sobre o futuro de Cuba, ela acha que a ilha vai continuar se modificando, embora seja difícil prever até quando.

"Hoje é um socialismo cubano com agentes capitalistas. Não é mais um socialismo puro, ortodoxo. Acho que essas mudanças vão continuar se processando. Mas se vai virar capitalista, aí não saberia dizer."

(Edição de Mair Pena Neto)



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Após 49 anos, ditador Fidel Castro renuncia ao poder em Cuba

19/02/2008 - 09h43

da Folha Online

Após quase meio século à frente do poder em Cuba e aos 81 anos de idade, o ditador Fidel Castro renunciou nesta terça-feira, dizendo que não aceitará cumprir um novo mandato na Presidência após a reunião do Parlamento cubano, prevista para domingo (24).

A renúncia abre caminho para que seu irmão, Raúl Castro, 76, implemente reformas no país. Ele assumiu interinamente o poder depois que Fidel adoeceu, em 31 de julho de 2006.

Claudia Daut/Reuters
Após Fidel declarar sua revolução socialista, cuba sofreu embargo dos EUA
Após 49 anos à frente do poder, ditador cubano Fidel Castro renuncia ao cargo por "falta de condições físicas" para continuar

"Meu desejo sempre foi cumprir minhas tarefas até o meu último suspiro", escreveu Fidel em uma carta publicada nesta terça-feira no site na internet do jornal "Granma". "No entanto, seria uma traição à minha consciência assumir uma responsabilidade que exige mobilidade e e dedicação que não estou em condições físicas de cumprir", escreveu o ditador cubano.

Ao fim de sua mensagem, Fidel se refere ao processo político cubano, e afirma que conta "com a autoridade e a experiência para garantir plenamente a sua substituição". Na carta, ele diz que não retornará à Presidência do país e que seu irmão Raúl será o novo presidente.

Fidel cedeu temporariamente o poder ao irmão depois de passar por uma cirurgia intestinal. Desde então, ele não foi mais visto em público, aparecendo apenas esporadicamente em fotos e gravações oficiais, e publicando artigos sobre várias questões internacionais.

Na carta, ele afirmou ainda que não participará da reunião da Assembléia Nacional, no próximo dia 24, para escolher os 31 membros do Conselho de Estado (Poder Executivo).

Fidel continuará como membro do Parlamento, mas não será mais o presidente do órgão.

A mulher de Raúl Castro, Vilma Espin, manteve sua cadeira no Conselho no ano passado até a sua morte, mesmo estando, durante meses muito doente para comparecer às reuniões.

Reunião

A nova Assembléia Nacional, eleita no fim de Janeiro, tem até 45 dias para escolher o chefe do governo do país.

Desde 1976, Fidel vinha sendo eleito e ratificado em todas as eleições, que se realizam a cada cinco anos.

No último sábado (16), Fidel havia aumentado a expectativa sobre sua decisão ao anunciar que "na próxima reflexão, abordarei um tema de interesse de muitos compatriotas".

Em mensagens que escreveu em dezembro, Fidel afirmou que não se apega ao poder, não obstrui as novas gerações e expressou seu apoio a Raúl, que desatou a ansiedade da população ao anunciar "mudanças" para enfrentar os graves problemas do país e ao criticar o "excesso de proibições".

Raúl desperta esperanças de mudanças econômicas que melhorem o cotidiano dos cubanos, e analistas dizem que a transferência formal do cargo lhe daria força para implementar tais reformas.

Era Fidel

Castro assumiu o poder em Cuba em 1959, e transformou o país em um Estado comunista.

Marcelo Katsuki/Arte Folha

Durante os 49 anos à frente do poder, ele sobreviveu a tentativas de assassinato e a uma invasão da ilha apoiada pela CIA [inteligência americana]. Dez administrações americanas tentaram derrubá-lo. A mais famosa tentativa foi a invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

Os partidários de Fidel o admiravam pela habilidade de garantir alto nível nos serviços de educação e saúde para os cidadãos, embora permanecesse independente dos EUA. Já seus opositores o chamavam de ditador cujo governo totalitário negava as liberdades civis.

Em 16 de abril de 1961, Fidel declarou sua revolução socialista. Um dia depois, ele derrotou a tentativa de invasão da Baía dos Porcos, apoiada pela CIA.

Os EUA embargaram a economia de Cuba, e a inteligência americana planejou matá-lo.

A hostilidade chegou ao seu auge em 1962, com a crise em torno dos mísseis cubanos.

Com o colapso da ex-União Soviética, a Cuba entrou em crise econômica, mas se recuperou durante a década de 90, com o boom do turismo.

EUA

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou nesta terça-feira que a renúncia de Fidel Castro "deve ser o começo da transição democrática em Cuba".

"A comunidade internacional deveria trabalhar com o povo cubano para começar a construir instituições para a democracia", disse Bush na entrevista coletiva que ofereceu em Kigali, capital de Ruanda. O presidente americano está em uma viagem por vários países da África.

"Eventualmente, esta transição deveria acabar em eleições livres e justas", disse.

Bush visitou em Ruanda um memorial das vítimas do genocídio no país em 1994, quando 800 mil pessoas foram mortas, sobretudo membros da etnia tutsi.